Certo dia, um menino de 10 anos bateu com uma colher num prato e escutou atentamente o som, que continuou a vibrar por algum tempo, parando, no entanto, quando o pequeno pôs a mão sobre o prato.
Com certeza, em muitos lugares do mundo, outros tantos garotos terão feito o mesmo e observado o fenômeno.
Mas, só um gênio como Blaise Pascal resolveu investigar o mistério e escreveu um
tratado sobre o som: "Traité des sons".
Nascido aos 19 de junho de 1623, em Clermont Ferrand (Auvergne), cedo
demonstrou a sua genialidade.
Uma vez, o pai o encontrou a riscar, com um pedaço de giz, "rodas e barras" no
assoalho do seu quarto.
Rodas e barras eram na verdade os círculos e as linhas retas da Geometria,
traduzidos na linguagem infantil.
Logo mais provaria que a soma dos ângulos de um triângulo perfaz dois retos,
resolvendo num passatempo, o 32º teorema de Euclides, cujo nome ignorava.
Na adolescência, aos 16 anos, escreveu um Tratado sobre as secções dos cones
"Traité des sections coniques", um problema de alta Geometria, que assombrou o mundo
profissional da época.
O próprio Descartes, ao lê-lo, se recusou a acreditar tivesse sido escrito por um
jovem dessa idade. Dois anos mais tarde, construiu o jovem matemático uma máquina de
contar, com o principal objetivo de aliviar seu pai dos complicados cálculos que necessitava
fazer na sua lida com as finanças do Município.
Numa época em que não estavam aperfeiçoadas as tábuas logarítmicas, este
engenho prestou grandes serviços aos que se ocupavam com a aritmética e mereceu
numerosas reproduções.
Oportunamente, Pascal presenteou com uma dessas máquinas ao célebre Condé e a
Rainha Cristina da Suécia, quando ela esteve na França.
Mais tarde, entre seus 23 e 25 anos, interessou-se pelos estudos da Física,
escrevendo sobre o "espaço vazio": "Nouvelles experiences touchant le vide".
Foi também nesta época que o pai de Blaise sofreu um acidente e, por permanecer
longo período na cama, teve a lhe servir de enfermeiros dois fervorosos discípulos de
Cornélio Jansênio que, ao se despedirem, deixando Etienne Pascal curado, deixaram toda a
família Pascal profundamente impressionada com o ideal religioso.
Em outubro de 1654, estando Blaise Pascal a passear de carruagem por uma ponte,
assustaram-se os cavalos, tendo dois deles se precipitado da ponte, após rompidos os
arreios. Os outros, com a carruagem ficaram suspensos sobre o abismo, salvando a vida do
cientista.
Dizem alguns de seus biógrafos que este fato lhe teria produzido um violento abalo,
fazendo-o se dedicar às questões religiosas.
Contudo, depois de sua morte foi encontrado, cosido no forro de sua vestimenta, um
bilhete datado de 23 a 24 de novembro de 1654, em que ele relata uma espécie de êxtase
que teria experimentado, e demonstra um desejo ardente de se consagrar às coisas
espirituais.
Escrevendo suas "Cartas Provinciais", Pascal apresenta a verdadeira Igreja do Cristo
não circunscrita a uma determinada organização eclesiástica, menos ainda a determinados
homens de um certo período, representando casualmente a Igreja, mesmo porque, falíveis
os homens, insegura seria a fé. Em 1657, suas "Cartas", dezoito ao todo, foram relacionadas
no Index, da Igreja. São consideradas um dos maiores monumentos da literatura francesa e o atestado de
uma grande sinceridade cristã.
A respeito, pronunciou-se Pascal: "Roma condenou as minhas Cartas; mas o que
nelas condenei está condenado no céu _ apelo para o teu tribunal, Senhor Jesus!"
Relata que pediu a Deus 10 anos de saúde para poder escrever sua apologia do
Cristianismo, que o mundo viria a conhecer com o nome de "Pensées", contudo, confessa,
Deus lhe deu quatro anos de enfermidade.
Nessa Apologia, ele apresenta Cristo não como o "Senhor morto" de tantos cristãos,
mas o Cristo vivo, sempre-vivo, aquele Cristo que segue com os homens, todos os dias.
Amar era para ele a melhor forma de crer, a "razão do coração que a razão ignora".
Deus é, antes de tudo o Sumo Bem, o alvo do amor, e ele afirmava não poder crer
senão num Deus que pudesse amar sinceramente.
A mensagem para a humanidade de sua época, para os melhores homens do século,
foi uma mensagem de vasta, profunda e panorâmica espiritualidade cristã.
Uma espiritualidade que brilha em todas as páginas do Evangelho, a espiritualidade
do Cristo.
Tal espiritualidade transcende das suas mensagens, inseridas pelo Codificador em O
Evangelho segundo o Espiritismo: a primeira, datada de 1860, recebida em Genebra, que
alude à verdadeira propriedade e a segunda, do ano 1862, de Sens, da qual destacamos
especialmente: "(...) Se os homens se amassem com mútuo amor, mais bem praticada seria
a caridade;(...) " e , logo adiante, "(...) esforçai-vos por não atentar nos que vos olham com
desdém e deixai a Deus o encargo de fazer toda a justiça, a Deus que todos os dias separa,
no seu reino, o joio do trigo.
"Não menos oportunas as observações em sua mensagem "Sobre os médiuns" (O
Livro dos Médiuns, cap. XXXI, item XIII) de excelente atualidade para os dias que estamos
vivendo, onde a mediunidade tem sido levada, muita vez, à conta de exclusiva projeção
pessoal e destaque social: "Que, dentre vós, o médium que não se sinta com forças para
perseverar no ensino espírita, se abstenha; porquanto, não fazendo proveitosa a luz que
ilumina, será menos escusável do que outro qualquer e terá que expiar a sua cegueira."
Sua morte se deu a 19 de agosto de 1662, aos 39 anos, em Paris, sendo que os dois
últimos anos de sua vida foram de intenso sofrimento.
A enfermidade que o tomou lhe furtou qualquer possibilidade de esforços físicos e
intelectuais.
Fonte: Enciclopédia Mirador Internacional, vol 16 e O Evangelho segundo o Espiritismo,
Allan Kardec.
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